terça-feira, 10 de julho de 2012

Origem da tatuagem

Origem da tatuagem


Rebeldia, mau gosto, marginalidade… foi-se o tempo em que estes eram sinônimos de tatuagem. O que antes era considerado “coisa do demônio” – alegação de um papa no século VIII – ressurge no século XXI como um modo de afirmação, com pessoas de todas as idades aderindo à sua prática.



A tatuagem sempre existiu, sendo uma forma de expressão de personalidade ou de indivíduos de uma mesma tribo. Não há concenso quanto à sua origem, ela surgiu e ressurgiu em inúmeros lugares e tempos. Este conceito de multinascimento é defendido por vários críticos, que supõem que a tatuagem estava na bagagem cultural das grades migrações dos grupos humanos, passando de um povo para o outro. Seus primeiros indícios são encontrados na arte pré-histórica, onde existem evidências que diversos grupos cobriam o corpo com desenhos. Existe a teoria que marcas involuntárias – adquiridas em guerras, lutas e caças – geravam glória e reconhecimento para quem as possuísse. Estas expressões naturais de “força e vitória” passaram a ser marcadas de forma voluntária, dando lugar à criação de desenhos.



A múmia mais antiga do mundo, encontrada nos Alpes em 1991 e datada com 7311 anos, apresenta mais de 50 tatuagens em seu corpo. Os diversos desenhos têm significações religiosas, e acompanham toda sua espinha dorsal, peito, braços e pernas. Outra múmia, de uma princesa egípcia que data aproximadamamente de 1994 a.c., também traz tatuagens em seu corpo. Um grande espiral na região do baixo ventre foi desenhado em um ritual de fertilidade. Outros indícios de povos adeptos aos desenhos corporais são encontrados na literatura clássica. Heródoto, um historiador grego que viveu no século V a.c. descreve a existência de um povo muito antigo, no norte da Europa, que tinha o costume de tatuar seus corpos. Chamados de Pictus, esta sociedade não se tatuava por mera vaidade, mas acreditavam que os desenhos lhes proporcionava poder e força, deixando-os impressos em suas almas. Os primeiros católicos, com medo das torturas e condenações por sua religião, atuavam na clandestinidade e reconheciam-se por tatuagens de cruzes, peixes e as letras IHS.



No continente americano, diversas tribos traziam seus corpos tatuados. Tanto nos Estados Unidos como na América Central e América do Sul (inclusive no Brasil) inúmeros povos utilizavam a píntura definitiva para expressar ritos de passagem e reverência à alguns elementos da natureza. As civilizações Waujás, Kadiwéus, Maias e Astecas são exemplos de povos que acreditavam que as tatuagens eram expressões mágicas e religiosas.



A origem da palavra “tatuagem” vem do inglês “tattoo”, que por sua vez foi cunhada pelo capitão britânico James Cook. Em suas viagens ao Taiti, Cook descreveu o hábito dos nativos pintarem a pele definitivamente através do “tatau”, técnica que utiliza ossos finos como agulhas, onde se batem pequenos martelos de madeira. No Oriente, outra técnica utilizada era a “sumi”, que persiste até hoje. Ao invés de agulhas, os desenhos são realizados com bambus.



As tatuagens têm inúmeros significados. Na China e no Japão, os desenhos estavam vinculados à diversas divindades e cultos. Na Líbia, outro país oriental, era normal ter a deusa Neit tatuada nos braços. No Egito e na Síria também era comum ter deuses tatuados em nos corpos. Outras civilizações também usavam desenhos para identificar clãs e hierarquias, como os polinésios. Charles Darwin, na metade do século XIX, afirmou que nação alguma do mundo desconhecia a arte da tatuagem. A maioria dos povos do planeta praticavam ou haviam praticado algum tipo de desenho corporal.



No Brasil, o primeiro tatuador a ter um estúdio de tatuagens profissionais foi que Knud Harald Lykke Gregersen, mais conhecido como Lucky Tattoo. Lucky era dinamarquês, nasceu em 1928 e aportou no cais da cidade de Santos em 1959, trazendo a primeira máquina elétrica de tatuagem para o país. Filho de um tatuador conhecido nas décadas de 1930 e 1940 na Dinamarca, Lucky Tattoo apresentava-se como desenhista e pintor. Estabeleceu-se na região portuária de Santos, onde seus clientes marinheiros se concentravam. Após pouco tempo, transferiu-se para a região central da cidade, local onde montou seu estúdio com a frase: “It’s not a saylor if he hasn’t a tattoo” (não é um marinheiro se não tiver uma tatuagem). Lucky viveu em São Paulo por mais de 20 anos, depois mudou-se para Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Faleceu em 17 de dezembro de 1983 no auge de sua carreira, com 55 anos, vítima de ataque cardíaco.



Inúmeras são as motivações que levam uma pessoa à se tatuar. Apenas na segunda metade do século XX a tatuagem incorporou os ideais da cultura Ocidental. O seu tom marginal deu lugar a um tom contestatório, ultrapassando barreiras e tornando-se um símbolo de ousadia e personalidade. Não apenas jovens aderem aos desenhos corporais; homens e mulheres de mais idade também estão começando a procurar os estúdios de tatuagem. Ela deixou de ser um ítem exclusivo da cultura jovem para tornar-se uma via de expressão da subjetividade.



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